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Correlação e Heterocedasticidade: Como Escolher as Variáveis Certas na Auditoria Baseada em Dados

1. A Importância da Estatística na Auditoria Interna

A auditoria baseada em dados vem se consolidando como uma das maiores transformações no campo da governança corporativa e da auditoria interna. Com o avanço da tecnologia, auditores deixaram de analisar amostras pequenas para avaliar 100% das transações, apoiando-se em ferramentas como ACL Analytics, Python, Power BI e SQL.

Entender conceitos estatísticos como correlação e heterocedasticidade é fundamental para aplicar modelos analíticos confiáveis. Essas técnicas permitem identificar relações entre variáveis, detectar anomalias financeiras e garantir que os testes automatizados sejam baseados em evidências robustas.

Além de aumentar a eficiência operacional, o domínio dessas análises dá ao auditor uma visão mais estratégica sobre riscos, fraudes e comportamento de dados. Isso possibilita a transição de uma auditoria reativa para uma auditoria preventiva e inteligente, em que os riscos são monitorados continuamente.

Em um cenário de transformação digital, o auditor que domina a linguagem dos dados deixa de ser apenas um avaliador de controles para se tornar um agente de inovação e mitigação de riscos corporativos.


2. Correlação: Entendendo as Relações Entre Variáveis

A correlação é uma medida estatística que indica como duas variáveis se relacionam. Em termos simples, mostra se elas se movem na mesma direção (correlação positiva), em direções opostas (correlação negativa) ou se não há relação (correlação nula).

Na auditoria interna, esse conceito é aplicado para avaliar comportamentos esperados entre variáveis financeiras e operacionais. Por exemplo, espera-se correlação positiva entre quantidade de vendas e receita, e negativa entre custos e margem de lucro. Quando essas relações não se confirmam, pode haver indícios de erro, desvio ou fraude.

Ferramentas como Python (pandas, seaborn), Excel e ACL Analytics permitem calcular o coeficiente de correlação de forma rápida. Esse coeficiente varia entre -1 e +1, indicando a força e a direção da relação. Quanto mais próximo de 1 (ou -1), maior é a dependência entre as variáveis.

Um auditor pode, por exemplo, identificar que pagamentos a fornecedores cresceram sem aumento proporcional nas quantidades compradas. Essa quebra de correlação pode indicar superfaturamento, pagamentos duplicados ou desvios contratuais, orientando análises mais profundas.

No Python, por exemplo, o auditor pode importar os dados e aplicar:

import pandas as pd
dados = pd.read_csv("financeiro.csv")
dados.corr()

3. Heterocedasticidade: Quando os Dados Não se Comportam de Forma Constante

A heterocedasticidade ocorre quando a variabilidade dos dados não é constante ao longo das observações. Em termos práticos, significa que o erro do modelo aumenta ou diminui conforme o tamanho da amostra ou o valor da variável analisada.

Na auditoria de dados, isso é comum. Por exemplo, em uma análise de reembolso de despesas por centro de custo, áreas menores tendem a apresentar valores mais estáveis, enquanto áreas maiores (como vendas ou logística) têm valores muito dispersos. Essa variação é um indício de heterocedasticidade.

Quando não é tratada, a heterocedasticidade pode comprometer os resultados das análises estatísticas, fazendo o auditor tirar conclusões incorretas sobre a confiabilidade de controles. Por isso, é importante aplicar testes como o de Breusch-Pagan para identificar o problema e, se necessário, transformar os dados (por exemplo, com logaritmos) para estabilizar a variância.

Com esse ajuste, os modelos de regressão e análise preditiva tornam-se mais robustos, permitindo que alertas e relatórios automatizados de auditoria contínua reflitam a realidade de forma mais precisa e confiável.


4. A Escolha das Variáveis Certas na Auditoria de Dados

A seleção das variáveis é o ponto crítico na construção de testes analíticos confiáveis. Variáveis irrelevantes adicionam ruído e confundem os resultados; já variáveis redundantes (altamente correlacionadas entre si) causam multicolinearidade, distorcendo o modelo.

Na auditoria contábil, por exemplo, ao investigar pagamentos suspeitos, incluir variáveis como valor, data, número da nota fiscal e CNPJ do fornecedor é fundamental. Mas incluir o “nome do fornecedor” pode gerar inconsistências, já que grafias diferentes representam o mesmo registro.

Outro exemplo está na auditoria de folha de pagamento: utilizar salário base, horas extras e encargos pode ser eficiente, mas incluir variáveis derivadas (como total de descontos) pode introduzir redundância. O ideal é escolher variáveis independentes e representativas do processo auditado.

A escolha certa das variáveis impacta diretamente na precisão do monitoramento contínuo. Ao trabalhar com dados limpos, correlacionados e bem definidos, o auditor consegue detectar exceções com maior assertividade e menor custo de revisão manual.


5. Aplicações Práticas e Benefícios para a Governança

Aplicar correlação e heterocedasticidade na auditoria interna vai muito além da teoria. Essas análises são a base para criar modelos preditivos, dashboards de risco e testes automatizados.

Com a correlação, é possível monitorar relações esperadas entre indicadores de desempenho e controles financeiros, detectando desvios em tempo real. Já com a heterocedasticidade, o auditor entende a variabilidade do comportamento organizacional, ajustando modelos de risco conforme o porte e a complexidade de cada área.

Ao combinar essas técnicas com ferramentas como Python, Power BI ou ACL Analytics, as equipes de auditoria conseguem implementar monitoramentos contínuos, emitindo alertas sempre que um comportamento foge do padrão estatístico esperado. Isso reduz o tempo de resposta e fortalece a cultura de auditoria preventiva.

Os benefícios são claros: maior eficiência operacional, relatórios mais precisos, decisões baseadas em evidências e ganho de credibilidade institucional. Em um ambiente corporativo cada vez mais digital e orientado a dados, dominar essas técnicas é o que diferencia um auditor tradicional de um auditor analítico e estratégico.

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Auditoria Contínua e Data Analytics na Auditoria Interna

Auditoria Contínua ou Monitoramento Contínuo de Riscos é um tema relativamente recente para profissionais de auditoria interna, governança corporativa e análise de dados.

Assim sendo, o assunto é pertinente em qualquer uma das linhas de defesa (Gestão, Auditoria Interna, Auditoria Externa, Gerenciamento de Riscos, Controles Internos, Compliance, Prevenção de Fraudes, etc.).

O que é Auditoria Contínua?

A metodologia de auditoria interna já é muito bem consolidada:

  • Mapeamento de processo e controle interno;
  • Criação do mapa de risco;
  • Análise de probabilidade e impacto;
  • Programa de testes para auditar;
  • Documentação dos papéis de trabalho;
  • Emissão de relatório ou parecer.

Auditoria Contínua é o processo de criação de rotinas automatizadas e periódicas de análise de dados e monitoramento contínuo. Gatilhos e critérios são pré-definidos em scripts (código-fonte/programação) para identificar exceções ou outliers (situações não usuais). São “robôs” que utilizam sistemas e ferramentas de análise de dados. Os robôs auxiliam na identificação de riscos, prevenção de fraudes, avaliação da segurança da informação, auditoria preventiva e testes de conformidade.

Uma atividade estreitamente relacionada aos auditores de TI, a Auditoria Contínua, ou Monitoramento Contínuo, provavelmente iniciou-se com as técnicas de auditoria com auxílio de sistemas, mais conhecidas como CAATs (Computer-Assisted Audit Techniques).

Monitoramento Contínuo

Usando ferramentas de análise de dados, como ACL (Audit Command Language) – agora chamado de Galvanize ACL Analytics, este profissional, aplica os conhecimentos de auditoria com o auxílio da ferramenta.

Consistindo relatórios, sumarizando campos, relacionando bases de diferentes sistemas, e criando amostras aleatórias com facilidade.

Há ainda outras ferramentas de análise de dados como Arbutus, SAS, IDEA e até mesmo o SQL Server pode ser utilizado com esta finalidade.

Transformando essas análises em scripts ACL, pode-se criar rotinas automatizadas de:

  • Monitoramento contínuo de riscos inerentes ao processo;
  • Testes de controles;
  • Simulação de controles;
  • Identificação e prevenção de fraude;
  • Gerar alertas de eventos ou comportamentos não usuais de acordo com o objetivo da auditoria.

Estes podem estar relacionados à segurança da informação, controle efetivo de inventário, quebra de alçada, pagamentos duplicados ou suspeitos e etc..

A automatização traz muitos benefícios:

  • Otimizar o plano de auditoria;
  • Implantar uma metodologia ágil;
  • Ganhar eficiência;
  • Evitar o retrabalho;
  • Reduzir custos;
  • Ampliar o escopo;
  • Novos métodos de visualização do parecer de auditoria;
  • Execução recorrente;
  • Análise em larga escala;
  • Alinhar interesses da auditoria e das áreas de negócios;
  • Fazer mais com menos.

Segurança dos Dados

Com alguns acessos de leitura ao AD (Active Directory) e relatórios gerenciais em ferramentas como o SCCM (System Center Configuration Manager), testes típicos de ITGC (Information Technology General Controls) podem ser realizados à distância e em tempo real sem a dependência da área de TI.

O monitoramento de transações críticas através de logs de acesso, revisão de perfis e funções pode ser facilmente avaliado comparando os dados eletrônicos e identificando situações em desacordo com as políticas e procedimentos da organização.

Auditoria Contábil

Escandalos recentes de corrupção e lavagem de dinheiro no Brasil demonstraram a importância de fortalecer a Governança Corporativa. Ficou evidente que o combate corrupção está intimamente ligado à identificação da “Contabilidade Criativa”. Movimentações atípicas reportadas pelo antigo COAF demonstraram a efetividade inegável de seguir “a rota do dinheiro do dinheiro sujo”.

A auditoria contabil, antes baseada em amostras aleatórias, evidências fornecidas pelo contador e testes de journal entries. Agora pode ser realizada de forma automática para a base completa com o cruzamento de dados. Isso amplia a cobertura de Riscos analisados.

Mapeando-se os processos, contas contábeis, tipos de documentos e comportamentos esperados podem-se identificar outliers: valores inconsistentes, atípicos, incompatíveis com o restante da série.

A análise de dados é facilitada quando a companhia utiliza dados estruturados em um sistema de ERP (Enterprise Resource Planning) como por exemplo o SAP. Neste tipo de sistema, há transações standard para cada processo, e as informações podem ser acessadas e extraídas diretamente na transação.

O ganho de eficiência vêm com conhecimento das tabelas internas do SAP. Pode-se extrair grandes volumes de dados de uma vez. Utilizamos a transação SE16, conectores ou transações ABAP.

Inovação na Auditoria Interna

A inovação é peça chave neste tipo de atividade, e está cada vez mais relacionada às tendências da área de TI: RPA, BI, Big Data, Data Science. Novos cenários se apresentam ao auditor:

  • Cloud Computing;
  • Gamificação;
  • Aplicativos mobile;
  • Internet das Coisas (IOT);
  • Trabalho remoto;
  • BYOD (Bring Your Own Device);
  • Metodologias ágeis e etc.

Exige-se portanto uma visão disruptiva do profissional para novos riscos, novos tipos de auditoria e novas possibilidades de auditar.

Automatização e RPA

O RPA (Robot Process Automation) vêm se destacando no mercado como solução de ganho de eficiência. No RPA, um robô é programado para executar tarefas sequenciais e repetitivas.

Quando associado à Inteligência Artificial, permite ainda a execução de atividades mais sofisticadas com um alto grau de precisão e aprimoramento contínuo.

Os humanos ficam liberados para atividades mais complexas, subjetivas, que exijam planejamento, estratégia e julgamento como conduta e integridade na prevenção de fraudes.

Data Science e Big Data

As Companhias estão estruturando planos de Transformação Digital, e temas como ciência de dados, data warehouse, data lake e os 3 V´s do Big Data já são corriqueiros.

O cientista de dados já um profissional cobiçado no mercado, embora o tema ainda seja bastante novo e esteja em constante aprimoramento.

As empresas de auditoria interna, consultoria, auditoria externa, faculdades, os profissionais – todos querem surfar esta onda cheia de jargões de análise de dados.

Resta ao profissional de gestão de riscos corporativos que deseja acompanhar estas inovações buscar a atualização de conhecimentos. Procure fortalecer a base teórica em matemática, especialmente estatística, desenvolver habilidades de programação e análise de dados.

Um bom começo pode ser o ACL ou ferramenta semelhante de análise de dados. Depois, cabe conhecer a linguagem R, Python e acompanhar os impactos da Inteligência Artificial e Robotização nos processos da Companhia.

Referências sobre Auditoria Contínua

Ficando Um Passo À Frente O Uso da Tecnologia por parte da Auditoria Interna (IIA/Michael P. Cangemi, 2015)

Auditoria Interna no Brasil

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