Categorias
Auditoria Data Analytics Data Science Estatística

Z-Score e Normalização: Usando a Estatística na Auditoria Baseada em Dados

1. A Evolução da Auditoria Interna com a Análise Estatística

A auditoria interna moderna vive uma transição definitiva para a era da análise de dados. Conceitos estatísticos que antes pertenciam apenas a cientistas de dados hoje fazem parte da rotina do auditor que busca identificar riscos, prevenir fraudes e monitorar processos em tempo real.

Nesse cenário, dominar métricas como o Z-Score, e técnicas como padronização e normalização, é essencial para garantir que os dados auditados possam ser comparados de forma justa e interpretados corretamente.

Ferramentas como Python, Power BI e ACL Analytics (Galvanize) permitem aplicar esses conceitos em grandes volumes de dados corporativos, tornando a auditoria mais quantitativa, automatizada e estratégica. O auditor que entende estatística transforma dados dispersos em insights confiáveis para tomada de decisão.

2. O Que é Z-Score e Como Ele Funciona

O Z-Score é uma medida estatística que mostra o quanto um valor está distante da média, em termos de desvios-padrão. Ele permite comparar valores de diferentes escalas e identificar outliers (valores fora do padrão esperado).

No cálculo do Z-Score, a média deve sempre ser igual a 0 (ou muito próxima de 0, considerando arredondamentos) e o desvio padrão igual a 1.
Isso ocorre porque o Z-Score é justamente a padronização dos dados — ele transforma qualquer distribuição (com média μ e desvio padrão σ) em uma distribuição normal padrão.

Veja um exemplo de aplicação do Z-Score:

Valores: 8, 25, 48, 72, 105, 130, 162, 189, 33, 176
Média (μ): 94,80
Desvio padrão populacional (σ): 63,45

Valor (X)Z-Score
18-1,37
225-1,10
348-0,74
472-0,36
51050,16
61300,55
71621,06
81891,48
933-0,97
101761,28
Σ (soma)9480
Média (μ)94,800
Desvio Padrão (σ)63,451

💡 Em resumo:

  • O Z-Score centraliza e reescala os dados;
  • Ele é fundamental em auditoria de dados para comparar variáveis com escalas diferentes;
  • A média dos Z-Scores é sempre 0, e o desvio padrão é sempre 1, por definição da padronização estatística.

Por exemplo, em uma análise de pagamentos a fornecedores, o Z-Score pode indicar se um valor pago está muito acima ou abaixo da média histórica daquele fornecedor. Um Z-Score de +3 indica uma transação três desvios-padrão acima da média, o que merece atenção imediata do auditor.

Em Python, o cálculo é simples e rápido:

import pandas as pd
from scipy import stats

dados = pd.Series([8, 25, 48, 72, 105, 130, 162, 189, 33, 176])
z_scores = stats.zscore(dados)
print(z_scores)

Com poucas linhas, o auditor pode identificar valores anormais automaticamente, substituindo a análise manual por evidências estatísticas objetivas.

3. Padronização e Normalização: Entendendo a Diferença

Embora pareçam sinônimos, padronização e normalização têm objetivos diferentes — e ambos são fundamentais para análises de auditoria precisas.

A padronização (standardization) transforma os dados para que tenham média 0 e desvio-padrão 1. Isso permite comparar variáveis de naturezas distintas — por exemplo, valores monetários e quantidades de transações — sem distorções causadas por escala. Já a normalização (normalization) reescala os dados para um intervalo fixo, geralmente entre 0 e 1, o que é útil quando se deseja limitar a influência de valores extremos.

Na auditoria de folha de pagamento, por exemplo, padronizar variáveis como salário, bônus e horas extras permite identificar colaboradores com remunerações fora da curva esperada. Já na auditoria de estoques, normalizar quantidades e valores ajuda a detectar itens com movimentação anormal ou inconsistência de custo.

Em Python, é possível aplicar ambas as técnicas facilmente:

import pandas as pd

# Dados originais
dados = pd.Series([8, 25, 48, 72, 105, 130, 162, 189, 33, 176], name="Valor Original")

# Estatísticas para Z-Score amostral
media = dados.mean()
desvio_amostral = dados.std(ddof=1)

# Estatísticas para Z-Score populacional
desvio_populacional = dados.std(ddof=0)

# Padronização (Z-Score amostral)
z_score = (dados - media) / desvio_amostral

# Padronização (Z-Score populacional)
z_score_p = (dados - media) / desvio_populacional

# Normalização Min-Max (0–1)
min_val = dados.min()
max_val = dados.max()
norm = (dados - min_val) / (max_val - min_val)

# DataFrame final
df = pd.DataFrame({
    "Valor Original": dados,
    "Z-Score (amostral)": z_score,
    "Z-Score (populacional)": z_score_p,
    "Normalizado (0–1)": norm
}).round(4)

pd.set_option('display.max_columns', None)
print(df.round(2))

Essas transformações tornam os dados comparáveis e prontos para análise de risco automatizada.

4. Aplicações Práticas na Auditoria Baseada em Dados

Na prática, o Z-Score e a padronização ajudam o auditor a criar indicadores estatísticos de risco para análises contínuas. Por exemplo, em uma auditoria de despesas, o auditor pode calcular o Z-Score de cada despesa por centro de custo, destacando automaticamente aquelas que ultrapassam 2 ou 3 desvios-padrão da média histórica.

Essas transações fora do padrão podem ser pagamentos duplicados, erros de classificação contábil ou indícios de fraude, permitindo foco na exceção e economia de tempo.

Além disso, padronizar dados é essencial quando se cruzam bases distintas, como dados contábeis, fiscais e operacionais. Sem essa uniformização, as análises podem gerar correlações falsas ou interpretações incorretas, comprometendo a confiabilidade da auditoria.

Em rotinas automatizadas de auditoria contínua, essas técnicas podem ser executadas periodicamente via scripts Python ou ACL, enviando alertas automáticos para transações que ultrapassem limites estatísticos definidos.

5. Por Que a Padronização e o Z-Score São Essenciais para a Análise de Dados

Ao adotar Z-Score, padronização e normalização, o auditor interno dá um passo importante rumo à governança baseada em dados. Esses conceitos tornam os relatórios mais confiáveis, facilitam a comunicação com as áreas de negócio e permitem definir limites estatísticos claros para riscos e exceções.

Além disso, a aplicação de métricas padronizadas eleva o nível de maturidade da função de auditoria. Em vez de depender de julgamentos subjetivos, as decisões passam a se basear em modelos consistentes e reprodutíveis. Isso traz credibilidade, transparência e agilidade aos processos de auditoria.

A padronização é, portanto, o elo entre o raciocínio analítico e a governança corporativa moderna. Aliada a ferramentas como Python, Power BI e RPA, permite que a auditoria interna antecipe riscos e atue de forma preventiva, fortalecendo o papel estratégico da função dentro da organização.

Em um ambiente corporativo cada vez mais orientado por dados, dominar o Z-Score e as técnicas de padronização não é apenas um diferencial — é um requisito essencial para o auditor do futuro.

Categorias
ACL Analytics Auditoria Big Data Compliance Data Analytics Data Science Estatística Inteligência Artificial Python R RPA SAP Segurança da Informação Tecnologia da Informação

Auditoria Contínua e Data Analytics na Auditoria Interna

Auditoria Contínua ou Monitoramento Contínuo de Riscos é um tema relativamente recente para profissionais de auditoria interna, governança corporativa e análise de dados.

Assim sendo, o assunto é pertinente em qualquer uma das linhas de defesa (Gestão, Auditoria Interna, Auditoria Externa, Gerenciamento de Riscos, Controles Internos, Compliance, Prevenção de Fraudes, etc.).

O que é Auditoria Contínua?

A metodologia de auditoria interna já é muito bem consolidada:

  • Mapeamento de processo e controle interno;
  • Criação do mapa de risco;
  • Análise de probabilidade e impacto;
  • Programa de testes para auditar;
  • Documentação dos papéis de trabalho;
  • Emissão de relatório ou parecer.

Auditoria Contínua é o processo de criação de rotinas automatizadas e periódicas de análise de dados e monitoramento contínuo. Gatilhos e critérios são pré-definidos em scripts (código-fonte/programação) para identificar exceções ou outliers (situações não usuais). São “robôs” que utilizam sistemas e ferramentas de análise de dados. Os robôs auxiliam na identificação de riscos, prevenção de fraudes, avaliação da segurança da informação, auditoria preventiva e testes de conformidade.

Uma atividade estreitamente relacionada aos auditores de TI, a Auditoria Contínua, ou Monitoramento Contínuo, provavelmente iniciou-se com as técnicas de auditoria com auxílio de sistemas, mais conhecidas como CAATs (Computer-Assisted Audit Techniques).

Monitoramento Contínuo

Usando ferramentas de análise de dados, como ACL (Audit Command Language) – agora chamado de Galvanize ACL Analytics, este profissional, aplica os conhecimentos de auditoria com o auxílio da ferramenta.

Consistindo relatórios, sumarizando campos, relacionando bases de diferentes sistemas, e criando amostras aleatórias com facilidade.

Há ainda outras ferramentas de análise de dados como Arbutus, SAS, IDEA e até mesmo o SQL Server pode ser utilizado com esta finalidade.

Transformando essas análises em scripts ACL, pode-se criar rotinas automatizadas de:

  • Monitoramento contínuo de riscos inerentes ao processo;
  • Testes de controles;
  • Simulação de controles;
  • Identificação e prevenção de fraude;
  • Gerar alertas de eventos ou comportamentos não usuais de acordo com o objetivo da auditoria.

Estes podem estar relacionados à segurança da informação, controle efetivo de inventário, quebra de alçada, pagamentos duplicados ou suspeitos e etc..

A automatização traz muitos benefícios:

  • Otimizar o plano de auditoria;
  • Implantar uma metodologia ágil;
  • Ganhar eficiência;
  • Evitar o retrabalho;
  • Reduzir custos;
  • Ampliar o escopo;
  • Novos métodos de visualização do parecer de auditoria;
  • Execução recorrente;
  • Análise em larga escala;
  • Alinhar interesses da auditoria e das áreas de negócios;
  • Fazer mais com menos.

Segurança dos Dados

Com alguns acessos de leitura ao AD (Active Directory) e relatórios gerenciais em ferramentas como o SCCM (System Center Configuration Manager), testes típicos de ITGC (Information Technology General Controls) podem ser realizados à distância e em tempo real sem a dependência da área de TI.

O monitoramento de transações críticas através de logs de acesso, revisão de perfis e funções pode ser facilmente avaliado comparando os dados eletrônicos e identificando situações em desacordo com as políticas e procedimentos da organização.

Auditoria Contábil

Escandalos recentes de corrupção e lavagem de dinheiro no Brasil demonstraram a importância de fortalecer a Governança Corporativa. Ficou evidente que o combate corrupção está intimamente ligado à identificação da “Contabilidade Criativa”. Movimentações atípicas reportadas pelo antigo COAF demonstraram a efetividade inegável de seguir “a rota do dinheiro do dinheiro sujo”.

A auditoria contabil, antes baseada em amostras aleatórias, evidências fornecidas pelo contador e testes de journal entries. Agora pode ser realizada de forma automática para a base completa com o cruzamento de dados. Isso amplia a cobertura de Riscos analisados.

Mapeando-se os processos, contas contábeis, tipos de documentos e comportamentos esperados podem-se identificar outliers: valores inconsistentes, atípicos, incompatíveis com o restante da série.

A análise de dados é facilitada quando a companhia utiliza dados estruturados em um sistema de ERP (Enterprise Resource Planning) como por exemplo o SAP. Neste tipo de sistema, há transações standard para cada processo, e as informações podem ser acessadas e extraídas diretamente na transação.

O ganho de eficiência vêm com conhecimento das tabelas internas do SAP. Pode-se extrair grandes volumes de dados de uma vez. Utilizamos a transação SE16, conectores ou transações ABAP.

Inovação na Auditoria Interna

A inovação é peça chave neste tipo de atividade, e está cada vez mais relacionada às tendências da área de TI: RPA, BI, Big Data, Data Science. Novos cenários se apresentam ao auditor:

  • Cloud Computing;
  • Gamificação;
  • Aplicativos mobile;
  • Internet das Coisas (IOT);
  • Trabalho remoto;
  • BYOD (Bring Your Own Device);
  • Metodologias ágeis e etc.

Exige-se portanto uma visão disruptiva do profissional para novos riscos, novos tipos de auditoria e novas possibilidades de auditar.

Automatização e RPA

O RPA (Robot Process Automation) vêm se destacando no mercado como solução de ganho de eficiência. No RPA, um robô é programado para executar tarefas sequenciais e repetitivas.

Quando associado à Inteligência Artificial, permite ainda a execução de atividades mais sofisticadas com um alto grau de precisão e aprimoramento contínuo.

Os humanos ficam liberados para atividades mais complexas, subjetivas, que exijam planejamento, estratégia e julgamento como conduta e integridade na prevenção de fraudes.

Data Science e Big Data

As Companhias estão estruturando planos de Transformação Digital, e temas como ciência de dados, data warehouse, data lake e os 3 V´s do Big Data já são corriqueiros.

O cientista de dados já um profissional cobiçado no mercado, embora o tema ainda seja bastante novo e esteja em constante aprimoramento.

As empresas de auditoria interna, consultoria, auditoria externa, faculdades, os profissionais – todos querem surfar esta onda cheia de jargões de análise de dados.

Resta ao profissional de gestão de riscos corporativos que deseja acompanhar estas inovações buscar a atualização de conhecimentos. Procure fortalecer a base teórica em matemática, especialmente estatística, desenvolver habilidades de programação e análise de dados.

Um bom começo pode ser o ACL ou ferramenta semelhante de análise de dados. Depois, cabe conhecer a linguagem R, Python e acompanhar os impactos da Inteligência Artificial e Robotização nos processos da Companhia.

Referências sobre Auditoria Contínua

Ficando Um Passo À Frente O Uso da Tecnologia por parte da Auditoria Interna (IIA/Michael P. Cangemi, 2015)

Auditoria Interna no Brasil

você está offline!